Característica negativa pode gerar resultado positivo
Por NATALIE ANGIER
Depois de passar décadas concentrados em características típicas do mau comportamento, como agressividade, egoísmo, narcisismo e cobiça, cientistas voltaram sua atenção para o tema mais sutil da maldade -o impulso de punir, ferir, humilhar ou constranger outra pessoa, mesmo quando nada se ganha e pode ser preciso pagar pelas consequências.
Psicólogos estão investigando a maldade como uma característica negativa, um lapso de conduta que deveria ser embaraçoso, mas que frequentemente é sublimado como virtuosismo.
Por sua vez, teóricos do evolucionismo estão estudando o que pode ser considerado o lado bom da maldade e seu possível papel na origem de características admiráveis como espírito de cooperação e senso de justiça.
A nova pesquisa transcende noções mais antigas de que somos basicamente selvagens brutos e egoístas, assim como sugestões mais recentes de que os humanos anseiam inerentemente por amor e laços. Em vez disso, a pesquisa conclui que o vício e a virtude podem estar estreitamente ligados.
No "Psychological Assessment", David K. Marcus, da Universidade Estadual de Washington, e seus colegas descreveram um estudo que elaboraram para avaliar diferenças individuais em relação à maldade, envolvendo 946 estudantes universitários e 297 adultos.
Os participantes disseram o quanto concordavam com sentimentos como "Se meu vizinho reclamasse da aparência do meu quintal, eu me sentiria tentado a deixá-lo ainda mais descuidado só para irritá-lo".
Os pesquisadores determinaram que os homens geralmente eram mais malévolos que as mulheres e que adultos jovens eram mais malévolos que os mais velhos.
Há muito tempo, teóricos do evolucionismo se debruçam sobre as origens e a finalidade da maldade, e um novo relatório sugere que, às vezes, a maldade pode gerar o bem. Patrick Forber, da Universidade Tufts, e Rory Smead, da Universidade Northeastern, ambas em Massachusetts, criaram um modelo computadorizado de jogadores virtuais que se desafiam em rodadas até o jogo decisivo. De acordo com as regras, o Jogador A decidia como um pote de dinheiro devia ser partilhado com o Jogador B. Se B concordasse com a divisão, ambos receberiam a porção combinada; se B recusasse a oferta, nenhum jogador receberia dinheiro.
Os competidores tinham de seguir uma de quatro estratégias. Estas incluíam desde a abordagem afável de "quando você é o Jogador A, você divide meio a meio, mas no papel do Jogador B você aceita qualquer oferta, por pior que seja", até a malévola "quando você é A, você faz uma oferta mesquinha, mas no papel de B você recusa uma oferta mesquinha". Os pesquisadores então deixaram os jogadores formarem grupos e ficaram surpresos com os resultados.
Embora grupos de jogadores extremamente malévolos ou egoístas tenham se desfeito rapidamente, e sociedades rigidamente justas fossem rapidamente desestabilizadas por influxos dos egoístas, os indivíduos flexíveis provaram não só que conseguiam conviver com os tipos malévolos, como a presença dos malévolos tinha o efeito de aumentar a taxa de trocas justas entre os afáveis. O doutor Smead disse que aparentemente a "integridade funciona como uma defesa contra a maldade".
Os resultados refletem outra pesquisa. Omar Tonsi Eldakar, da Universidade Nova Southeastern, na Flórida, estuda o elo entre comportamento cooperativo e punição egoísta.
Usando modelos da teoria dos jogos, ele demonstrou que quando jogadores egoístas, a fim de lucrar ao máximo, punem regularmente outros jogadores egoístas ou os excluem do grupo, o resultado líquido é um declínio geral de trocas egoístas, o que leva a um estado razoavelmente estável.
"É como a máfia", comparou ele. "Eles acabam reduzindo a criminalidade nas áreas em que moram.". Folha, 15.04.2014
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