terça-feira, 15 de abril de 2014

Pesquisas veem lado bom da maldade

Característica negativa pode gerar resultado positivo
Por NATALIE ANGIER
Depois de passar décadas concentrados em características típicas do mau comportamento, como agressividade, egoísmo, narcisismo e cobiça, cientistas voltaram sua atenção para o tema mais sutil da maldade -o impulso de punir, ferir, humilhar ou constranger outra pessoa, mesmo quando nada se ganha e pode ser preciso pagar pelas consequências.
Psicólogos estão investigando a maldade como uma característica negativa, um lapso de conduta que deveria ser embaraçoso, mas que frequentemente é sublimado como virtuosismo.
Por sua vez, teóricos do evolucionismo estão estudando o que pode ser considerado o lado bom da maldade e seu possível papel na origem de características admiráveis como espírito de cooperação e senso de justiça.
A nova pesquisa transcende noções mais antigas de que somos basicamente selvagens brutos e egoístas, assim como sugestões mais recentes de que os humanos anseiam inerentemente por amor e laços. Em vez disso, a pesquisa conclui que o vício e a virtude podem estar estreitamente ligados.
No "Psychological Assessment", David K. Marcus, da Universidade Estadual de Washington, e seus colegas descreveram um estudo que elaboraram para avaliar diferenças individuais em relação à maldade, envolvendo 946 estudantes universitários e 297 adultos.
Os participantes disseram o quanto concordavam com sentimentos como "Se meu vizinho reclamasse da aparência do meu quintal, eu me sentiria tentado a deixá-lo ainda mais descuidado só para irritá-lo".
Os pesquisadores determinaram que os homens geralmente eram mais malévolos que as mulheres e que adultos jovens eram mais malévolos que os mais velhos.
Há muito tempo, teóricos do evolucionismo se debruçam sobre as origens e a finalidade da maldade, e um novo relatório sugere que, às vezes, a maldade pode gerar o bem. Patrick Forber, da Universidade Tufts, e Rory Smead, da Universidade Northeastern, ambas em Massachusetts, criaram um modelo computadorizado de jogadores virtuais que se desafiam em rodadas até o jogo decisivo. De acordo com as regras, o Jogador A decidia como um pote de dinheiro devia ser partilhado com o Jogador B. Se B concordasse com a divisão, ambos receberiam a porção combinada; se B recusasse a oferta, nenhum jogador receberia dinheiro.
Os competidores tinham de seguir uma de quatro estratégias. Estas incluíam desde a abordagem afável de "quando você é o Jogador A, você divide meio a meio, mas no papel do Jogador B você aceita qualquer oferta, por pior que seja", até a malévola "quando você é A, você faz uma oferta mesquinha, mas no papel de B você recusa uma oferta mesquinha". Os pesquisadores então deixaram os jogadores formarem grupos e ficaram surpresos com os resultados.
Embora grupos de jogadores extremamente malévolos ou egoístas tenham se desfeito rapidamente, e sociedades rigidamente justas fossem rapidamente desestabilizadas por influxos dos egoístas, os indivíduos flexíveis provaram não só que conseguiam conviver com os tipos malévolos, como a presença dos malévolos tinha o efeito de aumentar a taxa de trocas justas entre os afáveis. O doutor Smead disse que aparentemente a "integridade funciona como uma defesa contra a maldade".
Os resultados refletem outra pesquisa. Omar Tonsi Eldakar, da Universidade Nova Southeastern, na Flórida, estuda o elo entre comportamento cooperativo e punição egoísta.
Usando modelos da teoria dos jogos, ele demonstrou que quando jogadores egoístas, a fim de lucrar ao máximo, punem regularmente outros jogadores egoístas ou os excluem do grupo, o resultado líquido é um declínio geral de trocas egoístas, o que leva a um estado razoavelmente estável.
"É como a máfia", comparou ele. "Eles acabam reduzindo a criminalidade nas áreas em que moram.". Folha, 15.04.2014

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